25 de Abril: Da estabilidade ao marasmo político

24 abr 2017

 

Os primeiros dias depois do 25 de Abril foram tempos de profunda expetativa. Que futuro para Portugal, questionava-se. Um futuro com liberdade, chegaria a resposta.

Sabia-se que não tardariam a alinhar-se os protagonistas políticos daqueles tempos. Sabia-se que não tardaria a surgir como tal o partido social-democrata de inspiração europeia que Sá Carneiro já tinha antecipado, antes mesmo da queda do Antigo Regime.

O PSD nasce da liberdade, como um partido personalista e humanista, valores que consagram a sua génese. Nasce da celebração da construção de uma sociedade democrática, onde devia prevalecer o pluralismo e onde todos deviam bater-se pela verdadeira justiça social. Nasce assente no pilar da solidariedade.

No fundo, o então PPD personificava os valores de Abril. Com eles, o partido empenhou-se em construir, a partir da Revolução, a verdadeira democracia que os portugueses há tanto pediam. E foi assim que estivemos nos momentos fundadores do sistema político e da sociedade que hoje temos.

 


"Fomos protagonistas ativos da construção do Portugal democrático e europeísta"


 

Desde logo, apoiando e integrando o primeiro governo provisório, que tomou posse pouco depois do 25 de Abril e que contava com o nosso líder Sá Carneiro no elenco governativo. Da mesma forma estivemos representados nos governos que lhe sucederam, de que Joaquim Magalhães Mota fez parte.

Fomos protagonistas ativos da construção do Portugal democrático e europeísta, mesmo quando as forças de bloqueio tentavam boicotar as nossas sessões de esclarecimento por todo o País. Queriam travar a divulgação da social-democracia do PPD, mas o tempo era nosso.

Quando se acentuou a degradação do processo democrático, o PPD ocupou um lugar cimeiro na manutenção da estabilidade: nas ruas, junto dos cidadãos e dos militantes (que já eram muitos) e no acompanhamento do processo político. E o resultado foi expressivo! Nas eleições para a Constituinte, fomos a segunda força mais votada. A um partido, com cerca de um ano de vida, os portugueses confiaram a responsabilidade honrosa de os representar, com grande destaque, na Assembleia Constituinte. Ontem como hoje, é em nós que os portugueses continuam a depositar a confiança. 

Soubemos divergir quando os valores de Abril estiveram em causa. Mas não sem apresentar uma solução, para que o vazio de poder não fosse ocupado por derivas antidemocráticas.

Soubemos agir perante as ameaças concretas à democracia recente.

Soubemos reconhecer as limitações da Constituição aprovada em 1976 e, em consequência, propusemos diversas melhorias ao texto ao longo dos anos.

A história confirma-o: o PSD foi um bastião da estabilidade democrática desde as primeiras horas daquele dia 25 de abril de 1974. Soube desafiar e soube ajudar a construir. Soube promover a reforma e levar o País em frente. Sempre com a mesma entrega ao serviço pelos interesses de Portugal.

Sim, o PSD foi e continua a ser o referencial da estabilidade democrática em Portugal. Não é fruto do acaso que os portugueses nos tenham confiado a missão de pôr ordem nas contas públicas depois dos desvarios de governos de outras cores políticas. Não foi, definitivamente, acaso a confiança expressa nas urnas, em outubro de 2015.

Naqueles primeiros dois anos depois da Revolução, estivemos onde foi necessário para dar à nossa democracia o mesmo cunho humanista, pluralista e personalista que eram os do PSD; para inscrever nela a justiça social, a solidariedade e a liberdade que motivaram o 25 de Abril.

Como nessa altura, continuámos a procurar sempre o diálogo. Com a sociedade e com outras forças políticas. Um diálogo que não seja de fachada e que não constitua um cheque em branco a troco dos ideais de ninguém. Através do diálogo – combinado com uma ação ponderada e uma visão do mundo que é reformista e audaciosa – garantimos a estabilidade do sistema político e a renovação das políticas públicas.

Estabilidade que não é imobilismo e que, por isso, não arrisca o futuro para segurar o presente. Como não foram imobilistas os homens e mulheres que lutaram pela liberdade, entre 1974 e 1976.

 


"E enquanto eles se detêm a discutir o passado, continuamos a ser o único partido que vai ao Parlamento apresentar e defender uma visão para Portugal."


 

Hoje, o PSD continua a ser a referência de estabilidade. No Parlamento, temos um protagonismo inequívoco. Somos o tema de eleição dos líderes políticos que apoiam o atual governo. E enquanto eles se detêm a discutir o passado, continuamos a ser o único partido que vai ao Parlamento apresentar e defender uma visão para Portugal.

Amanhã, estaremos a celebrar os 43 anos do 25 de Abril. Que seja um momento para compreender como a estabilidade política não pode nunca ser tomada por marasmo. Que seja um momento de futuro para Portugal, que não pode ficar parado, a ver passar ano após ano, recordando os ideais da Revolução que nos trouxe a democracia e a liberdade. Que seja um momento de reconhecer que Portugal merece mais do que uma estabilidade aparente. Portugal merece ter governantes corajosos, como foram corajosos aqueles que fizeram, outrora, a Revolução.

 

José Matos Rosa

Secretário-geral do PSD