Uma questão de calendários, não de agenda

04 jan 2017

O ano de 2016 foi marcado pelo cumprimento do défice, custe o que custar. E o custo foi pesado. Pesou nas escolas que, com as cativações orçamentais, deixaram de ter dinheiro para as necessidades básicas de funcionamento e de segurança e se viram forçadas a encerrar as suas cantinas, ou mesmo as portas, por períodos de tempo que vão ter consequências no aproveitamento escolar dos alunos.

Pesou nos hospitais que, com as cativações orçamentais e o agravamento da fatura dos pagamentos em atraso, se vêem sem verba para manter as condições mínimas de trabalho, proteger as instalações contra os efeitos (normais) da meteorologia ou garantir o atendimento eficaz e de qualidade aos cidadãos.

Pesou na queda abrupta do investimento público, a maior de sempre nos últimos 60 anos. Tudo isto para, no fim, se dizer: cumprimos o défice. Não interessa a que custo. Interessa apenas usar o soundbyte de que o governo cumpriu os objectivos para o défice. Na verdade mais não se verificou do que o recurso a medidas excepcionais e extraordinárias. E manda a sagacidade propagandística deste governo das esquerdas que se embandeire em arco em volta do endeusamento de um défice que antes se diabolizava. Na verdade o esforço de contenção orçamental, esse sim histórico e sem precedentes, coube à governação anterior, que assumiu um país com um escandaloso défice superior a 10% e o trouxe para os 3%, fazendo-o cair em mais sete pontos percentuais no período de quatro anos. Tal esforço foi feito sem colocar em causa a manutenção da qualidade dos serviços públicos nem das suas infraestruturas. Em suma, protegendo o Estado Social.

O que nos espera em 2017? Muda o objetivo, mas a prevalência dos interesses partidários do PS, BE, PCP e Verdes acima do bem público mantem-se.

Se o défice marcou o discurso político no primeiro ano de governo, as eleições autárquicas vão marcar o segundo. Não assumidamente, porque dita a prática engenhosa deste governo que é com argúcia que se leva a água ao moinho (aos vários moinhos), mas presente nos atos e nas intenções. Como se viu na passada semana com o favorecimento vergonhoso de autarquias socialistas. Vai ser o vale tudo! A ambição eleitoralista teve um peso substancial no Orçamento do Estado para 2017, a ferramenta que dita as prioridades da ação governativa. E essas estão bem definidas: atirar areia para os olhos dos portugueses, vendendo-lhes a ilusão de que a aposta é no seu bem-estar e na melhoria da sua qualidade de vida, com manobras eleitoralistas como os aumentos no subsídio de refeição ou de até 10 euros em pensões mínimas. Mas só a partir do segundo semestre do ano, porque a vida dos portugueses só está na agenda política para cumprir um calendário: o das eleições.

Preparemo-nos para a famosa parcialidade dos governos de esquerda. Para esta esquerda vale tudo... preparemo-nos para a batota pré-eleitoral.

 

Marco António Costa

Vice-presidente do PSD