Historicamente Inteligentes

28 mar 2017

Cidades inteligentes são aquelas que, apoiadas pelos mais recentes avanços das tecnologias de informação e comunicação, tiram partido da sua identidade, dos seus recursos naturais e capital humano para construírem modelos de desenvolvimento urbano sustentáveis e inclusivos para aqueles que nelas habitam.

Assim, na data em que celebramos o Dia Nacional dos Centros Históricos, vale a pena refletir como pode a construção da inteligência urbana alavancar crescimento económico, captar investimento e criar emprego nas cidades e vilas do nosso país, do litoral ao interior.

Efetivamente, sendo uma das características intrínsecas a qualquer centro histórico a existência de uma riqueza de datas, locais e acontecimentos, cujo potencial de criação de experiências únicas para quem os visita é inegável, as tecnologias de que hoje dispomos e que estão presentes nas denominadas cidades inteligentes podem assumir um papel fulcral nesse processo.

Olhando à nossa volta, quer em Portugal quer no estrangeiro, assistimos hoje a uma tendência para, nas cidades inteligentes, criar destinos smart – que utilizam as tecnologias de informação e comunicação para proporcionar uma experiência única, um aumento e melhoria do tempo de estadia e do consumo de produtos e serviços locais.

Para a criação de um destino inteligente, a disponibilização de acesso à internet através de rede Wi-Fi de forma livre e universal é um passo decisivo em todo o processo. A existência destas redes, ao contrário de um custo, como ainda muitos o encaram, é de facto uma oportunidade, pois permite garantir não apenas o acesso a conteúdos disponibilizados pelo município em websites ou apps para visitantes, mas ainda mais importante, tirando partido de uma abordagem de marketing contextual, enviar notificações ou serviços a pedido, como por exemplo informação sobre o monumento que temos à nossa frente ou uma promoção instantânea para um estabelecimento comercial local.

Não menos importante, especialmente para quem tem a responsabilidade de governar a cidade ou vila, a existência desta rede sem fios permite ao município, através dos “metadados” capturados automaticamente pelos pontos de acesso e sem colocar em causa a privacidade pessoal, saber a todo o momento onde estão os visitantes, a sua nacionalidade, quais os percursos que fazem e, através do modelo do seu smartphone, conseguir mesmo tirar conclusões sobre o seu poder de compra.

Por outro lado, seguindo a tendência global das cidades adotarem políticas de dados abertos, estas cidades e vilas, através da abertura dos dados relativos ao comércio, património, agenda cultural, desporto, ambiente, transportes e por aí adiante, podem objetivamente apoiar as empresas, as start-ups, os programadores de aplicações, os urbanistas, as organizações da sociedade civil, entre outras, a encontrar novas e inovadoras formas de lidar quer com os problemas urbanos criando novos produtos e serviços que ainda não conseguimos antecipar.

Os dados abertos podem, assim, potenciar o desenvolvimento económico. Na União Europeia, de acordo com o estudo Re-Using Open Data (2017), o mercado dos Dados Abertos terá em 2020 um valor de 75,7 mil milhões de euros e um mercado de trabalho direto de 100.000 empregos nesta área. Também graças ao efeito económico positivo na inovação e no desenvolvimento de numerosas ferramentas para aumentar a eficiência, não apenas o setor privado, mas também a administração pública, espera ter um ganho pela redução de custos através da reutilização de dados abertos no total de 1,7 mil milhões de euros. Por último, e não menos importante, segundo este estudo, existem outros tipos de benefícios, não diretamente expressos em euros, mas que possuem um valor inegável, como as 7.000 Vidas salvas graças a uma melhor capacidade de resposta ou as 2.549 horas poupadas na procura de um lugar de estacionamento.

Se analisarmos este potencial de criação de valor dos dados abertos numa perspetiva das cidades, também aqui encontramos evidências do enorme impacto que podem ter, conforme atesta, por exemplo, o retorno do investimento de 58:1 dos Transport for London pela libertação dos dados dos transportes.

Para terminar, combinando conectividade livre e universal com políticas de dados abertos, temos o ambiente perfeito para que empreendedores e start-ups, de base local e tirando partido da massa cinzenta nacional, criem apps Smart Destinations que sejam capazes de oferecer a quem visita os Centros Históricos uma experiência única, rica em informação e potenciadora da atividade das empresas de produtos e serviços locais, criando emprego e riqueza para todos.

 

Miguel de Castro Neto

Professor Universitário