Rui Rio em entrevista à TVI: "Primeiro, Portugal"

25 jul 2018

Em entrevista à TVI, o Presidente do PSD falou sobre a preparação do Orçamento do Estado para 2019, criticou a degradação dos serviços públicos, em particular, no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e comentou as reivindicações dos professores quanto à contagem do tempo de serviço. Rui Rio analisou, ainda, as implicações da redução do horário de trabalho para as 35 horas na função pública.

“Acho que a questão dos professores é justa. A profissão tem sido proletarizada. Tem de se arranjar uma solução intermédia que não pode ser os nove anos aplicados por inteiro no Orçamento do Estado para 2019”, defendeu, considerando que se pode diluir a reposição dos anos de serviço no tempo ou encontrar outras formas de negociação, como as reformas antecipadas.

Rui Rio afirmou estar convencido de que “o Governo já tem uma solução” para o conflito com os docentes e que esta “vai acabar por ser moeda de troca para a passagem do Orçamento do Estado”.

Sobre a proposta orçamental do executivo, Rui Rio voltou a dizer que não pode antecipar o sentido de voto do PSD em relação a um documento que desconhece, mas considerou que “o lógico” é que este seja aprovado pelos partidos à esquerda que suportam o Governo, caso contrário “seria mau para todos”.

“Se o Orçamento chumbasse, em bom rigor António Costa teria de viabilizar um Governo PSD/CDS. Ele não disse em 2015 que só chumbou o Governo de Passos Coelho porque conseguia maioria à esquerda? Se agora não conseguisse, devia pedir desculpa e apoiar um Governo PSD/CDS, desde que o Presidente da República também aceitasse”, disse, lembrando que foi esta coligação a força mais votada nas legislativas de 2015.

Já sobre a redução das 40 para as 35 horas na função pública, o líder do PSD classificou-a como “uma irresponsabilidade completa” sobretudo no setor da saúde, acusando o Governo de não ter preparado a administração pública para esta mudança. “Ou põem isto a funcionar direitinho ou, se não há condições, tem de se voltar para as 40 horas”, sustentou.

Rui Rio voltou a destacar aquela que é a sua máxima de ação política: “primeiro estará Portugal e só depois estará o PSD”.


Modelo económico do Executivo não serve o País

Numa entrevista de cerca de meia hora, Rui Rio apontou o que faria de diferente em relação ao modelo económico do atual Governo, dizendo que se fosse primeiro-ministro “tinha sido mais comedido e apostado mais no futuro e menos no presente”. O modelo económico do atual executivo assemelha-se, segundo Rui Rio, à cigarra da fábula de La Fontaine. O Presidente do PSD argumenta que o Governo não faz reformas e continua preso a uma economia de “baixos salários”. “O primeiro-ministro disse recentemente que o PS não é a Carochinha e tem razão; o PS é mais como a cigarra”, criticou Rui Rio, invocando a fábula de La Fontaine, em que, ao contrário da formiga, a cigarra prefere cantar a amealhar nos tempos fáceis para os momentos difíceis.

Rui Rio apontou que o crescimento económico do país poderia ser muito melhor – “é o quarto pior da União Europeia” – e que, apesar do desemprego ter baixado muito, a produtividade também desceu.

O Presidente do PSD admitiu que teria devolvido os salários e pensões “de forma mais cadenciada” e teria aproveitado o crescimento económico para diminuir ainda mais o défice e a dívida, “que atingiu um máximo recorde”. “São empregos enquadrados num modelo económico de baixos salários”, lamentou, apontando que os quadros mais bem preparados do país continuam a emigrar.

Para o Presidente do PSD, o modelo de crescimento tem de assentar nas exportações e no investimento, acusando o atual Governo de estar mais virado para o consumo e não ter “nenhuma política para acarinhar o investimento”, nomeadamente estrangeiro.

Como princípio geral de uma política do PSD num futuro Governo, Rui Rio insiste que o défice e as finanças públicas têm que ser controlados: “Eu se fosse primeiro-ministro, quando for primeiro-ministro, nunca porei em causa o equilíbrio orçamental português e farei tudo para que divida pública se reduza, isto serve para tudo”.

Questionado sobre a diminuição da taxa do IVA na eletricidade ou o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) acima dos 600 euros, Rui Rio disse que “é muito difícil não se estar de acordo com as medidas propostas, porque as medidas são sempre salários mais altos, impostos mais baixos”. “O problema não é estar de acordo, é se é possível ou não”, sublinhou, defendendo, contudo, que, no domínio da energia, seria possível baixar a fatura dos portugueses através de um “combate melhor às rendas excessivas da EDP” e que se deve anualmente “forçar a subida do SMN acima da inflação”.

Credibilidade, seriedade, coragem e competência

“O que é fundamental nas europeias em primeiro lugar é o PSD subir e preferencialmente ganhar”, assinalou Rui Rio. Nas últimas eleições europeias, o PSD concorreu em coligação com o CDS e obteve 27,1% dos votos, atrás do PS (31,46%), correspondentes a sete eurodeputados, seis dos quais para os sociais-democratas.

Como líder do PSD, Rui Rio clarificou que o objetivo é conseguir consolidar uma imagem de credibilidade ao serviço à causa pública. A credibilidade é, de acordo com o líder do PSD, o somatório de seriedade, coragem e competência.

A esse propósito, Rui Rio recorreu a uma metáfora do desporto para explicar a visão que tem da sua tarefa. “Eu fui corredor de 100 metros, mas foi quando tinha 18 ou 20 anos. Também não sou maratonista, mas tenho de fazer uma corrida que também não é um sprint”, afirmou, dizendo que quem não gosta “não vai gostar até ao fim”.