Incêndios: “O primeiro-ministro demitiu-se das suas responsabilidades”

18 out 2017

 

Pedro Passos Coelho criticou a falta de humildade do Governo quando, quatro meses após Pedrógão Grande, o Estado volta a falhar “clamorosamente”. Acusou o primeiro-ministro de tentativa de “sobrevivência política” e destacou que António Costa “não tem condições para inspirar confiança ao País

 

O primeiro-ministro demitiu-se das suas responsabilidades”, acusou esta quarta-feira Pedro Passos Coelho, em declarações aos jornalistas no decorrer da reunião do grupo parlamentar do PSD na qual se decidiu apoiar a moção de censura ao Governo da iniciativa do CDS-PP. O Presidente do PSD referiu que os social-democratas partilham “do mesmo sentimento de indignação e, até, de revolta” perante o “falhanço do Estado” no que diz respeito aos incêndios que têm afetado o País.

Todos os erros voltaram a ser cometidos”, denunciou o líder social-democrata, criticando o atual Executivo pela falta de “humildade em pedir desculpa ao País”, assim como pela incapacidade de “tirar ilações políticas desta matéria”.

Constança Urbano de Sousa, ao demitir-se do cargo de ministra da Administração Interna e ao assumir que o pretendia ter feito logo após Pedrógão Grande, veio confirmar a “clara responsabilidade do próprio primeiro-ministro nesta situação”, disse. Segundo destacou, “enquanto a ministra recebesse as críticas, elas não eram dirigidas ao primeiro-ministro”. Para Pedro Passos Coelho, “isto mostra todo o carácter político da ausência de liderança que temos no Governo”.

 

Este Governo não merece uma segunda oportunidade

António Costa “não tem condições para inspirar confiança ao País”, afirmou o líder social-democrata, confessando que, enquanto cidadão, sente “vergonha pelo que se passou”. “Nunca pensei que um governo se comportasse desta maneira, que não tivesse o sentido do que é preciso fazer, e dizer, num momento em que o que interessa não é salvar a sua pele”, reiterou. “Este Governo não merece uma segunda oportunidade, porque deitou fora todas as oportunidades que tinha”, considerou.

Pedro Passos Coelho referiu-se à “forma heróica como as pessoas se comportaram, sabendo que o Estado não estava lá para lhes valer” e criticou o “orgulho ou instinto de sobrevivência política” que parecem predominar em quem governa. Lembrou que o próprio Presidente da República, “que não tem responsabilidade executiva, sentiu que era uma perda que pesava na consciência do seu mandato”. Por isso, perguntou: “o Governo, que governa o País, acha que não é nada com ele?”. Trata-se, contudo, de uma “situação que implica um sentido pedido de desculpa e de perdão do Estado”, afirmou, lembrando que, já aquando de Pedrógão Grande, o Estado falhara “clamorosamente”.

 

Andam todos no Governo a assobiar para o lado

O PSD estará à altura daquilo que se espera do maior partido da oposição”, esclareceu Pedro Passos Coelho, assinalando que, apesar de António Costa ter pedido consensos quanto à reforma da floresta, rejeitou as propostas social-democratas. Recordou que da bancada do PSD surgiram outras iniciativas como a proposta que visava “proceder de forma mais expedita ao cadastro no País” e que “PS e Governo não queriam discutir”. Deu outros exemplos como o do “mecanismo expedito de indemnizações”, por si avançado, que o Executivo rejeitou e a maioria chumbou, mas que voltará a ser apresentado, pois “as pessoas merecem um mecanismo rápido de indemnização”. Falou, ainda, sobre a Comissão Técnica Independente com a qual, agora, “o Governo enche a boca para tudo e mais alguma coisa”.

Andam todos no Governo a assobiar para o lado e a culpar o governo anterior e as décadas anteriores, quando nunca aconteceu o que está a acontecer agora. Isto não é uma conversa séria”, denunciou o líder social-democrata. Acusando Executivo e Bloco de Esquerda de terem “um negócio feito para dizer que o problema da floresta é um problema de eucaliptos”, apontou que, apesar de também o Pinhal de Leiria ter ardido, o ministro da Agricultura não se pronunciou sobre algo que é da sua responsabilidade.