Enquanto os social-democratas propõem “visão de futuro”, PS e Governo apostam nas acusações

04 set 2017

Socialistas e membros do Governo têm-se esforçado, nos últimos dias, por criticar quem lhes faz oposição e recusa enveredar pelo pensamento único que parecem querer impor. Enquanto os social-democratas desafiam o Executivo a explicar as medidas que toma ou a empreender reformas estruturantes para o futuro do País, os que hoje estão no governo saem logo em defesa própria acusando tudo e todos, num registo próprio da intolerância que o PSD tem vindo a denunciar. Quando interpelados sobre medidas tomadas ou que se prevêem tomar (ou mesmo sobre a falta delas), PS e Governo respondem com acusações, exibindo dificuldade em fundamentar decisões. Em análise, declarações de social-democratas e reação de socialistas e do atual Executivo.

 

Festa do Pontal

Na Festa do Pontal, em agosto, Pedro Passos Coelho alertou para a necessidade de se fazerem reformas com vista ao futuro em detrimento da política que parece estar a dominar: a do “geringonçar”. Lembrou que, em dois anos e apesar da sua importância, não se registaram avanços na reforma do Estado, na descentralização, na reforma laboral ou da Segurança Social. Quando o PSD propõe “algo construtivo, recusam, porque estão imbuídos do espírito, da cultura míope em relação ao futuro”, dizia então o líder social-democrata.

António Costa não tardou em responder, atacando o líder da oposição: argumentou querer fazer reformas, mas não as que “significam cortar as reformas aos reformados porque essas é as reformas que a direita faz”. Por sua vez, João Galamba acusava Pedro Passos Coelho de “ensaiar um discurso que não tem lugar em Portugal e que deve ser severamente censurado”. Estavam em causa declarações sobre a lei da imigração. Nem PS, nem Governo explicaram, todavia, quais as alterações às regras de entrada e permanência em solo português.

 

Rentrée socialista

As acusações subiram de tom quando António Costa, por ocasião da rentrée socialista, acusou Pedro Passos Coelho de “todos os dias” criticar os bombeiros. O PSD respondeu, repudiando a “falsidade criada pelo primeiro-ministro”. Deu exemplos claros de que se tratava de uma mentira de António Costa e apelou a que o primeiro-ministro se retratasse publicamente. Ainda na Pontinha, António Costa insinuava que o anterior governo nada tinha feito pela floresta. Pedro Passos Coelho esclareceu assim, em Ribeira de Pena, que “as críticas que são dirigidas à oposição erram o alvo”, já que o PSD foi o primeiro “a apresentar iniciativas legislativas no Parlamento”.

 

Universidade de Verão

Foi, contudo, com a Universidade de Verão (iniciativa anual promovida pela JSD, em Castelo de Vida) que as críticas subiram ainda mais de tom. Na sequência das intervenções de Aníbal Cavaco Silva, ex-Presidente da República, e de Paulo Rangel, eurodeputado, o Partido Socialista reagiu com duras críticas. Pedro Passos Coelho, na Universidade de Verão, perguntou: “o Dr. Cavaco Silva não tem direito a exprimir a sua opinião?”; “não podem tomar o que disse pelo valor do que disse?”. Mas António Costa, num registo que parece ser cada vez mais habitual, acabou por comentar: “é natural que haja pessoas que tenham saudades do estilo presidencial que o professor Cavaco representou”. António Costa foi mais longe ao classificar a Universidade de Verão como uma “escola de maledicência”. Para o líder social-democrata é claro: “não aceitaremos um ambiente de intolerância em que só se discute, em Portugal, o futuro segundo a perspetiva do pensamento dominante”.

 

Este domingo

Às críticas que aponta, o PSD não obtém resposta. O contrário, já não se aplica. Em Coimbra, António Costa afirmava: “o PSD nada aprendeu e só quer repetir aquilo em que já falhou”. Horas mais tarde, em Portalegre, Pedro Passos Coelho reiterava que os social-democratas são “fiéis” aos seus princípios e que têm a “humildade” de corrigir o que for necessário.

Mas as críticas do secretário-geral socialista continuaram (e como que reagindo à intervenção de Paulo Rangel na Universidade de Verão): nas suas palavras “o grande objetivo do PSD” é “evitar os aumentos salariais e diabolizá-los como sendo um Estado Social”. Pedro Passos Coelho esclarecia, mais tarde, que tinha dado “a indicação clara de como estamos [PSD] disponíveis para que Portugal possa atingir objetivos maiores que façam da nossa economia uma economia mais dinâmica e aberta” e permitam, por conseguinte, ao País um futuro mais promissor. “Esperava que, depois da demonstração que fizemos, o Partido Socialista e o chefe do Governo pudessem ter respondido fundamentando a sua posição”, continuou. Contudo, tal não se veio a verificar, “perderam a oportunidade para responder à nossa visão de futuro”, ao terem centrado a sua atenção na desclassificação de quem interveio na Universidade de Verão.

Que pena que o debate político esteja tão degradado”, disse o Presidente do PSD, lamentando que “quem governa se preocupe apenas em rotular tudo aquilo que não seja bajulação”. Caso PS e Governo mantenham o mesmo registo, “continuarão a falar sozinhos”, assegurou, recusando fazer parte de “um pensamento de intolerância” que parece estar a predominar.