Maria Luís Albuquerque: “Autoeuropa, mais um reflexo da geringonça”

30 ago 2017

 

30 de agosto de 2017 é um dia histórico na indústria portuguesa, infelizmente pelas piores razões. Pela primeira vez em 26 anos, desde que a fábrica da Volkswagen se instalou em Portugal, realiza-se uma greve. O grau de adesão que a mesma venha a registar terá impacto no prejuízo financeiro que a empresa vai registar e que pode chegar, por dia, aos 5 milhões de euros com uma quebra de produção de 400 carros. Além do impacto nas exportações nacionais, o nosso mais determinante motor de crescimento económico. Mas o prejuízo que causa na reputação de uma empresa que tem sido reconhecida como das mais produtivas do grupo e onde sempre houve paz laboral, esse, já é irreversível e as suas consequências podem ser da maior gravidade.

O significado político desta greve é alarmante, mesmo se não surpreendente. O PCP apoia este governo porque isso lhe permitiu garantir, pelo menos por mais uns anos, a sobrevivência da CGTP. Com as reversões das concessões a privados dos transportes públicos de Lisboa e Porto, assegurou que a CGTP mantém um poder de intervenção política que é completamente desproporcionado face aos trabalhadores que efetivamente representa. Mas só alguém desatento ou otimista acharia que o PCP ficaria por aqui. O combate à iniciativa privada, particularmente aquela que é bem-sucedida na criação de riqueza e de postos de trabalho, faz parte da cartilha dos partidos da extrema-esquerda e era só uma questão de tempo até que se tornassem mais visíveis os contornos desta estratégia.

 


"No melhor dos cenários, redução da prevista criação de postos de trabalho. No pior, encerramento a prazo da fábrica e o regresso aos dias negros de desemprego e miséria na Península de Setúbal


 

A saída de António Chora, que se reformou no início deste ano, da liderança da comissão de trabalhadores da Autoeuropa, desequilibrou os poderes dentro da fábrica e permitiu aos sindicatos afetos à CGTP alcançar o que há muito pretendiam sem sucesso: impor à Autoeuropa a sua cultura de direitos adquiridos, sem atenção aos deveres, desprezando (ainda que não ignorando) os impactos que tal alteração pode trazer. No melhor dos cenários, redução da prevista criação de postos de trabalho. No pior, encerramento a prazo da fábrica e o regresso aos dias negros de desemprego e miséria na Península de Setúbal. É o próprio António Chora que classifica a atuação dos sindicatos da CGTP como populista e que refere o que aconteceu em outras empresas do grupo VW na Europa com a deslocalização de produção: perda de postos de trabalho.

O conflito na Autoeuropa é mais um reflexo da geringonça e do preço que António Costa impõe ao País para ser primeiro-ministro sem ter sido eleito. A troco da aprovação de orçamentos do Estado, do silêncio e cumplicidade de PCP e BE perante o colapso do investimento público e do estrangulamento dos serviços públicos, permite à CGTP que se instale onde até hoje não tinha conseguido entrar. Enquanto o curto prazo correr (aparentemente) bem, continuará a reclamar méritos que não tem e a partilhá-los com PCP e BE. No futuro, alguém será chamado a tentar remediar os estragos e a reerguer de novo um País inutilmente comprometido, mas por ora a manutenção no poder de António Costa e do PS e o reforço progressivo de poder por BE e PCP justificam todos os sapos que se engulam e todos os custos para o nosso desenvolvimento.

 

Maria Luís Albuquerque

Vice-presidente do PSD