Universidade da Europa: potenciar o sentimento de pertença

19 mai 2017

Apesar de todas as virtudes que reconheço ao projeto europeu, onde ressalvo os seus contributos para a concretização de democracias, a criação de condições para uma paz bélica duradoura (com exceção dos Balcãs, verdade seja dita, hoje também nas fronteiras da sua política de vizinhança a Leste com a Ucrânia e esquecendo também a invasão turca de Chipre) o avanço tecnológico, o progresso e as melhorias da qualidade de vida – designadamente – mas não só - ao nível das infraestruturas e ainda o impulso a economias de mercado que fugissem ao planeamento centralizado, e sendo por isso um europeísta convicto, não posso deixar de constatar que a nossa Europa está bastante afastada do seu Povo, ou melhor dizendo, dos seus Povos.

Talvez porque inicialmente não abarcasse o território que hoje abarca – mas quanto a isso nada havia a fazer pois era o contexto geoestratégico que impunha que aqueles seis fundadores se reunissem, mas sobretudo porque desde então tem evoluído sem envolver os cidadãos ou pelo menos sem que estes se sintam envolvidos.

Justa ou injustamente, a perceção que existe da Europa – mesmo hoje em que a organização política de integração já praticamente coincide com a Europa territorial (continente) é a de algo complexo, distante, onde reinam os tecnocratas que pouco sabem da realidade dos Estados de onde vêm, cuja legitimidade decorrente do processo de escolha não tem génese popular (com exceção dos Deputados ao Parlamento Europeu – a que nós chamamos Eurodeputados) e onde imperam diretivas muitas vezes sem sentido e que se imiscuem em pormenores ridículos da vida em sociedade.

Enfim, hoje a comunhão que devia existir entre irmãos é mais uma partilha quase forçada entre primos mais motivados por conveniências do que por emoção e em que as vantagens de sermos Europeus (aquelas que ninguém discute porque são dadas como garantidas) são, portanto, pouco valorizadas.

Este projeto está hoje em perigo como nunca esteve com os sinais de alarme gritantes que vieram do Brexit, da apreensão e temor causados pelas eleições Austríacas e pelos referendos Húngaros e Italiano.

Mas, foquemos a nossa atenção nas recentes eleições presidenciais Francesas enquanto não chegam as alemãs – que já não tardam:

Marine Le Pen conquistou 34% dos votos, mas isto é dizer muito pouco… é muito mais importante atentar que obteve 10 milhões e 644 mil votos e quanto a mim foram mais 10 milhões e 644 mil votos do que aqueles que deveria ter tido. Isto sim é alarmante! Com ¼ destes votos ter-se-ia formado um governo com maioria absoluta em Portugal…. Se somarmos a todos esses, aqueles adeptos de extrema-direita que estão na Áustria, na Polónia, na Grécia e em Itália, facilmente se percebe que estaremos perante um exército imenso.

Mas tentemos analisar ainda a 1ª volta das eleições Francesas para perceber o seguinte: Tendo Macron nesse ato eleitoral obtido 24% e Le Pen 21% - 2 pontos acima de Fillon (o candidato dos Republicanos – parceiros do PSD no seio do PPE) a verdade é que um comunista extremista também anti-europeísta Melechon – cuja candidatura tinha precisamente o mote França Insubmissa, numa clara alusão à Europa – conseguiu 19.5 % e o candidato socialista, que o foi mais por teimosia do que por outra coisa, fez 6.5.%. É muito fácil de ver que foi por muito pouco que não tivemos na segunda volta um comunista radical contra uma fascista radical – ambos anti europa.

 


"Cumpre naturalmente saudar iniciativas de construção, de discussão saudável e moderada, enfim… de reflexão em torno do projeto Europeu"


 

A sorte é que nós no centro direita não somos populistas, mas responsáveis e ao contrário da esquerda moderada que não o faz contra a extrema-esquerda (em Portugal até fazem “casamentos de conveniência”) nós realmente combatemos a extrema-direita. Repare-se que Melechon não apoiou formalmente Macron na 2ª volta mesmo disputando-a contra a candidata precisamente oposta aos comunistas, algo que nos deve fazer refletir…

Em suma, quando tanto se fala da constituição de um exército Europeu (e não deixa de ter piada que muitos do que o defendem não estão tão sensíveis à necessidade de afetar 2% do seu PIB ao setor militar), pelo menos um exército de radicais (ora de esquerda, ora de direita) já existe!

Perante todo este alarme, cumpre naturalmente saudar iniciativas de construção, de discussão saudável e moderada, enfim… de reflexão em torno do projeto Europeu.

Com a excelência e rigor da direção do “nosso” Carlos Coelho, a Universidade da Europa afigura-se como um espaço privilegiado, não só de discussão politica e de aprendizagem da orgânica das instituições Europeias, mas sobretudo como um espaço potenciador do sentimento de pertença a esta “Europa” que é bem mais do que um espaço físico. Uma verdadeira Europa na forma de estar e agir. A Europa da solidariedade, da tolerância, da partilha de sinergias e objetivos, a Europa da paz e do desenvolvimento.

A Europa criada para ser intolerante, isso sim, com os extremismos, os populismos e os nacionalismos exacerbados!

Esta nossa Jovem Europa que se sobrepõe ao “velho continente”, que muito tem para caminhar, mas na qual acredito acima de tudo! 

Que esta Universidade da Europa seja capaz de formar cidadãos verdadeiramente Europeus.

Que este seja o início ou a afirmação do projeto Europeu dentro cada um de vós!

 

Cristóvão Simão Ribeiro

Presidente da JSD

 

Conheça aqui o programa da 10ª Universidade Europa, a decorrer na Batalha entre hoje e 21 de maio.